
Com isso, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), como entidade do episcopado brasileiro, é
aliada ao combate desse tipo de prática, fazendo o chamamento ao diálogo
de dioceses, paróquias, comunidades e entidades ligadas à missão
pastoral. “Se é difícil combater o trabalho escravo pelos interesses que
estão em jogo e pelo status que dele se beneficiam, mais difícil é
derrotar a cultura do ter, que impulsiona muitas pessoas a serem
escravas do trabalho só para acumular”, afirma o bispo da diocese de
Barra do Piraí Volta Redonda (RJ), dom Francisco Biasin.
A CPT foi pioneira no combate ao
trabalho escravo e levou a denúncia até a Organização das Nações Unidas
(ONU), o que permitiu que o Governo fosse, de certa forma, réu, em um
processo sobre a existência de trabalho escravo. Com isso, o Estado se
comprometeu em criar uma estrutura de combate a esse crime em território
brasileiro. “A igreja precisava tomar um posicionamento diante da
realidade já muito explícita de trabalho escravo no Brasil, o Governo
negava que existia esse tipo de situação”, disse o assessor da Comissão
Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e da Paz, padre
Ari Antônio dos Reis.
Em meados de agosto de 2009, houve uma
reunião com diversas entidades da sociedade civil, governamentais e da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O objetivo do encontro
era discutir mecanismos para potencializar o combate e a prevenção do
trabalho escravo, e traçar estratégias de inclusão social, em condições
de trabalho dignas, dos trabalhadores vitimados. “Desde 2009, nós
estamos visitando e dialogando com as dioceses sobre a situação do
trabalho escravo, e também criando nesses locais pequenos grupos que vão
aumentar a reflexão sobre essa situação”, explicou o padre Ari Antônio
dos Reis.
A igreja assumiu uma série de ações no
combate a este tipo de exploração. A partir das primeiras reflexões do
Grupo de Trabalho assumiu-se a iniciativa de organizar um encontro de
trabalho envolvendo algumas entidades e bispos. A partir de então, foram
definidas importantes resoluções de cobrança por parte dos governantes e
capacitação das pastorais para assumir iniciativas adequadas em suas
áreas.
De acordo com a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho escravo apresenta
características bem delimitadas. Além das condições precárias, como
falta de alojamento, água potável e sanitários, por exemplo, também
existe cerceamento do direito de ir e vir pela coação de homens armados.
Além disso, os trabalhadores são forçados a assumir dívidas crescentes e
intermináveis, como alimentação e despesas com ferramentas usadas no
serviço.
Por parte do Estado, existem ações que
podem auxiliar no combate ao trabalho escravo, como por exemplo, a
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438. A "PEC do Trabalho Escravo"
é considerada um dos projetos mais importantes de combate à escravidão,
tanto pelo forte instrumento de repressão que pode criar, mas também
pelo seu simbolismo, pois revigora a importância da função social da
terra, já prevista na Constituição.
A PEC 438 foi apresentada em 1999 pelo
ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), e propõe o confisco de propriedades
em que forem encontrados casos de exploração de mão-de-obra equivalente à
escravidão, e/ou lavouras de plantas psicotrópicas ilegais, como a
maconha. A PEC 438/2001 define ainda que as propriedades confiscadas
serão destinadas ao assentamento de famílias como parte do programa de
reforma agrária.
Persistem alguns desafios para o Estado,
a Igreja e a sociedade civil, voltados na perspectiva de enfrentamento e
superação desta situação. Destacam-se a fiscalização eficiente, a
mobilização social contra esta prática, a reforma agrária, superação da
miséria. A impunidade, ainda constante, precisa ser combatida. Na
chacina de Unaí, por exemplo, quatro dos réus se encontram em liberdade,
beneficiados por habeas corpus, e outros cinco (acusados de participar
da execução) permanecem presos.
Fonte: cnbb
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