Outra vez celebramos o mês dedicado
às vocações, e, com um acento especial, somos chamados a refletir, celebrar e
renovar o chamado que o Senhor nos faz. É belo olhar para a comunidade eclesial
e perceber que todos somos chamados à Santidade, cada um vivendo o dom que
recebeu. Temos sempre que trazer à mente que a santidade de Deus torna-se
visível no corpo místico de Cristo, que é a Igreja, através de todos os seus
membros: leigos, religiosos, sacerdotes. A comunidade dos filhos de Deus,
chamados por Cristo e guiados pelo Espírito, é cada vez mais santa quando cada
membro se esforça por corresponder ao seu chamado. Todavia quando não tem
consciência do chamado, ou quando responde a outras vozes, o cristão fica perdido
sem saber quem é e para onde caminha.
Não escutar a voz do Pastor que chama
é uma realidade que afeta todos, mesmo aqueles que são comprometidos com sua
vocação. Outras vozes vindas dos três inimigos do homem – ele próprio, o mundo
e o maligno – podem ecoar mais fortes querendo determinar as suas orientações e
escolhas, de modo que ele fecha os seus ouvidos para Deus e abre-os aos
“ídolos” que querem tomar o lugar de Deus. Eis a realidade do mundo em que
vivemos: os velhos ídolos do passado ressurgem com nova aparência querendo se
estabelecer na vida de cada seguidor de Cristo como seus “senhores” . Não é em
vão que o próprio Jesus combate a voz do maligno no deserto, vencendo-o e
norteando sua vocação somente ao chamado do Pai, que O elegeu para fazer a Sua
Vontade. Precisamos vencer as vozes que com tanta engenhosidade tentam
arrastar-nos à tirania do poder, do prazer e da riqueza, como metas de
realização da nossa existência. Será que
ainda reconhecemos a voz do Senhor? Ou não sabemos mais distingui-la entre
tantas vozes? Só reconhecendo Aquele que nos pode trazer a vida e respondendo
SIM ao Seu projeto é que seremos felizes e nos realizaremos plenamente enquanto
seres humanos.
Praticamente é impossível não ouvir
tantos chamamentos que vêm da realidade tão ruidosa em que vivemos. Eles estão
aí, em nós e fora de nós, todos os dias, propondo-nos e atraindo-nos a
alternativas de vida sem a participação do Senhor. Não precisamos ir longe para
constatar que existe um projeto de vida vocacional totalmente contrário àquele
que Deus traçou para seus filhos, e por qual estamos sujeitos a optar. Basta
observar os nossos pensamentos: examiná-los torna-nos capazes de perceber que
as propostas contrárias ao plano de Deus se encontram dentro de nós próprios.
Se não tivermos consciência da nossa vocação e não buscarmos conhecer a Deus, a
nós mesmos e o mundo que nos cerca, andaremos perdidos, às apalpadelas,
tentando encontrar um rumo para a vida e sendo levados não pelo vento do
Espírito, mas pelos furacões destruidores da vida. Não podemos livrar nossos ouvidos dos apelos
do mundo, porém fixando nossa escuta em Jesus, o único que nos pode dar a vida,
escutaremos Sua voz, seguiremo-Lo e n’Ele encontraremos a segurança que
ansiamos.
Conhecer a si mesmo e a Deus exige de
nós uma busca constante. A tradição do Carmelo nos propõe um caminho para essa
busca: o silêncio, a meditação da palavra de Deus e a centralidade da
eucaristia. Se um (a) carmelita deixa de lado a leitura da Palavra de Deus e a
vida eucarística, afasta-se da fonte de sua vocação; e sem o alimento do Pão da
Palavra e do Pão do Céu, acompanhado do silêncio para que as vozes interiores e
exteriores se calem, ele, simplesmente, se afasta do vínculo de comunicação com
o Senhor. Como escutar o Senhor se Ele não
é mais procurado, desejado, querido, amado? O Carmelita é chamado a escutar Deus
através de uma atitude orante de vida, cultivada pelo silêncio, pela Palavra e
pela Eucaristia. Quanto mais estreitarmos os laços de amizade com Ele, mais Ele
nos permitirá conhecer a nós mesmos, pois ao contemplá-Lo, mais perceberemos o
quanto somos pecadores e desejaremos participar de Sua santidade. Quanto mais
nos afastarmos d’Ele, menos saberemos sobre nós e nos contentaremos com o nada
que somos.
Para escutar cotidianamente o Senhor
e permanecer no Seu seguimento é imperativo que sejamos cônscios de que nem em
nós nem no mundo encontramos palavra de vida eterna. Só Jesus é O que tem
palavra de vida eterna. Ele é o Verbo no qual nos movemos, somos e existimos.
Deste modo, se Ele é a Palavra Viva e Eterna pela qual tudo foi criado, e para
qual tudo converge, acolhamos o Seu chamado. Não Lhe cerremos hoje nossos
ouvidos, escutemos Sua voz e O sigamos! Não nos iludamos com palavras que se
evaporam no ar e não são capazes de nos fazer felizes. Só Ele tem palavra de
salvação.
Frei José Cláudio de A. Batista, O.
Carm
Fonte: blog dos frades carmelitas
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