Dois dias antes de completar 90 anos, em dezembro de 2010, o
Cardeal do Rio de Janeiro, acariense Dom Eugênio de Araújo Sales,
concedeu entrevista ao Extra Online.
Eis a íntegra da conversa com o jornalista Bruno Rohde.
*
Em seu escritório, em Ipanema, Dom Eugenio conserva a simplicidade.
Poucos móveis e uma foto dele com o Papa Bento XVI decoram o lugar.
Imagens religiosas, livros, além de miniaturas das bandeiras do Brasil e
do Vaticano repousam sobre sua mesa. Durante os 30 minutos de conversa
com o EXTRA, Dom Eugenio falou sobre todos os assuntos, da
aposentadoria, passando pelos casos de pedofilia na Igreja Católica e o
medo da morte. Riu ao ser perguntado se era progressista ou conservador e
disse estar contente com sua vida.
Extra – O que o senhor sentiu quando sua renúncia como arcebispo do Rio foi aceita pelo Vaticano, em 2001?
Dom Eugênio – É sempre um vazio. Mas eu ocupo bastante o meu tempo servindo às necessidades do Rio de Janeiro.
Extra - Em seu discurso de posse como
arcebispo do Rio, em 1971, o senhor disse: “esta imensa metrópole
continua sendo, sob vários aspectos, o coração do Brasil”. O senhor
considera o Rio ainda o coração do Brasil? Por que decidiu seguir
morando aqui?
Dom Eugênio - Considero, mesmo com as dificuldades, etc. Mas o Rio
representa tudo o que se deseja. Preferi ficar aqui. Tinha muitos laços
de amizade. Dei-me muito bem aqui. Não me arrependo dessa escolha.
Extra - Como senhor vê os padres que têm envolvimento com a pedofilia?
Dom Eugênio - Há uma manipulação desses crimes – que foram cometidos –
como se a Igreja tivesse se desligado de combatê-los. Não, a Igreja
sempre combateu. O Papa Bento XVI tem sido muito enérgico. É um mal que
existe não só na Igreja, mas existe nas famílias também.
Extra - O senhor ajudou a proteger perseguidos pelo regime militar. Por que?
Dom Eugênio - Eu não aparecia como sendo um político, eu me
apresentava como um pastor. Também não atacava, e sim defendia. Nem
sempre eu alcançava êxito, mas eu não me omitia nunca.
Extra - O senhor, em algum momento, sente medo da morte?
Dom Eugênio - Não, não. A morte é algo inevitável. A gente sente a
ausência porque a morte é sempre uma coisa que não era para ocorrer. O
homem não devia morrer. Mas a morte é a passagem para uma vida
definitiva.
Extra - O senhor se considera um homem conservador ou um progressista?
Dom Eugênio - Considero-me só um pastor. Nunca passou pela minha
cabeça ser progressista, nem ser conservador, mas sim ser o que devo
ser. Isto é trabalhar, explicar o evangelho e ter consideração pelas
pessoas.
O senhor tem uma história de proximidade com Dom Helder Câmara, não é?
Dom Eugênio - Éramos bons amigos. Pensávamos diferente, mas havia uma
amizade profunda. Ele sempre me ajudou. Nunca houve atrito. Havia
posições diferentes, mas mútua compreensão.
Como é a rotina do senhor atualmente?
Dom Eugênio - Continuo trabalhando, não vou parar. Dou expediente
todos os dias, respondo correspondências e isso me satisfaz. Estou
contente.
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