Pode parecer estranho a princípio, mas é necessário que reaprendamos a ouvir o
silêncio como condição para uma fala com mais qualidade e profundidade. Com
simplicidade, traduzi essa verdade numa das músicas que Deus me concedeu a graça
de compor, canto assim: “Ouço teu silêncio, meu Senhor, para distinguir só
tua voz...” Escrevi isso há muito tempo e continuo aprendendo dia a dia a
viver essa experiência. Quando a fala é precedida por um silêncio de reflexão,
aquilo que a boca diz tem sempre mais conteúdo.
Recentemente, em uma
mensagem para o Dia Internacional das Comunicações, o Papa Bento XVI fez essa
afirmação: “A relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que
se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo
autêntico e uma união profunda entre as pessoas”.
Muitos dos nossos
conflitos nos relacionamentos e na comunicação surgem de um excesso de palavras
e uma carência do silêncio. Não um silêncio distante ou frio, mas um silêncio de
quem ativamente escuta e acolhe a outra pessoa naquilo que ela está dizendo. “O
silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de
conteúdo”, afirma também o Pontífice.
Se esse silêncio faz bem na comunicação entre os homens, ele é muito mais
importante no nosso relacionamento com Deus, assim diz o Santo Padre: “Se Deus
fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a
possibilidade de falar com Deus e de Deus. Temos necessidade daquele silêncio
que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar
ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora” (Homilia durante a
Concelebração Eucarística com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 6
de outubro de 2006).
Muitas vezes, reclamamos que Deus não fala
conosco, mas, na verdade, somos nós que não aprendemos a ouvir o que Ele nos
fala, ainda quando está em silêncio.
Para que a nossa vida seja
verdadeiramente uma canção, será necessário aprendermos a conviver em harmonia
com a palavra e o silêncio, no qual um não exclua o outro, mas que, em perfeita
complementaridade, formem juntos uma fecunda comunicação. Jesus sabia, em
Seus discursos e diálogos, alternar com eficácia os momentos de fala e de
silêncio. O silêncio que jamais foi ausência de mensagem, mas um espaço fecundo
de revelação de uma pessoa: Jesus Cristo.
Convido vocês a afinarem os
ouvidos e o coração para aprendermos a acolher o silêncio de Deus e, cheios
dele, comunicarmos ao mundo, pela nossa fala e vida, aquilo que ouvimos no
profundo do nosso coração. Evangelizar requer de nós essa sabedoria: combinar a
fala e o silêncio, o discurso e a reflexão. Uma evangelização que fale tanto, a
ponto de roubar o espaço do silêncio, corre o risco de não produzir os frutos
esperados. Assim podemos orientar todo o nosso esforço de evangelização da
intimidade do nosso lar aos mais longínquos rincões do mundo. Desejo a você uma
profunda experiência da escuta desse silêncio de Deus, pois quem aprende a
ouvi-Lo, sempre fala melhor.
Deus o abençoe!
Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova
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